Paris, 29 de Abril de 2021.
Após o episódio da soja, “as amazônias” continuam em embate. Com as fronteiras fechadas entre o Brasil e a França, as tensões entre os países fronteiriços tendem a piorar… e a variante brasileira não é a única culpada. Photo by Nathalia Segato on Unsplash
Em um artigo na UOL, Bolsonaro discutiu a nova decisão da França em relação às multas europeias na exportação da soja. Estas multas resultam de um “não respeito ao meio ambiente” segundo o presidente Macron, que em uma entrevista para o jornal francês Le Monde, defendeu a decisão do Parlamento europeu. Em sua conta Twitter, o presidente francês adicionou: “Continuer à dépendre du soja brésilien, ce serait cautionner la déforestation de l’Amazonie. Nous sommes cohérents avec nos ambitions écologiques, nous nous battons pour produire du soja en Europe!”
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(Continuar dependente da soja brasileira, seria apoiar a desflorestação da Amazônia. Nós somos coerentes em nossas ambições ecológicas, e nós lutamos para produzir a soja na Europa!).
Ainda que este apontamento de Macron tenha sido persistente no quesito ambiental, Bolsonaro não mediu palavras e retrucou:
“A Amazônia é nossa e, a decisão, deve ser tomada pelo povo brasileiro”.
Jair Bolsorano, presidente do Brasil
No entanto, uma parte da Amazônia se encontra também em território francês – na Guiana Francesa – o que acabou causando mais polêmicas nas relações diplomáticas entre o Brasil e a França.
Mas esse enfraquecimento nas relações diplomáticas entre os dois países não é de hoje… Além da floresta amazônica está presente entre oito países da América latina, ela cobre 95% do território francês, ou seja, mais de 8 milhões (80 000 km²).
Através a Guiana Francesa, a maior fronteira da França é com o Brasil (730 km), o que acaba causando uma forte imigração clandestina brasileira nesta região. Os brasileiros necessitam de visto para entrar na “Collectivité Territoriale de Guyane” (CTG) – o que não é necessário na França metropolitana.
Com a chegada da variante brasileira, os políticos locais passaram a se preocupar ainda mais com a chegada de brasileiros no território. Hoje, 80% das contaminações do coronavírus na Guiana provém da variante brasileira. Os confrontos entre garimpeiros e as forças armadas francesas também fazem parte dos desafios de ambos.
Ademais dessas pressões geopolíticas, outras polêmicas enfraqueceram a diplomacia entre os dois países. Uma delas foi ligada diretamente com a vida pessoal do presidente francês: Bolsonaro fez uma crítica sobre a diferença de idade entre Macron e sua esposa. A mídia francesa e internacional criticou a ação do chefe de Estado brasileiro… mais um motivo de lobbying internacional contra o presidente Bolsonaro considerado extremista.
A França tem mais apoio, ou melhor “peso” frente às decisões ecológicas do que o Brasil, logicamente. Este ponto é importante, pois, de fato, frente às problemáticas sobre a desflorestação da Amazônia, a opinião mais “verde” tem mais peso na COP21 (realizada em Paris). Lembrando que os lobbyings internacionais desvalorizam a imagem brasileira, sempre lhe representando como desrespeitosa do meio ambiente.
Em 2019, durante as grandes queimadas, o ex-presidente Lula, havia enfatizado durante uma conferência em Berlim: “A Amazônia não é da França e Brasil tem que exercer soberania”. No mesmo ano, Macron se pronunciou “dando uma lição de moral” sobre a desflorestação que o Brasil estava causando.
Vale ressaltar que a mídia francesa passou à se questionar sobre o comportamento francês diante a situação na Amazônia francesa. Muita ONG’s como WWF, se pronunciaram, pois, o presidente francês havia feito acordos com multinacionais mineiras, que, também, exploravam a amazônia. Em 2019, o próprio ministro da economia, Bruno Le Maire, havia assinado um contrato dando 5000 hectares a serem explorados durante 5 anos. Hoje a desflorestação continua independentemente da cor da bandeira.